Nestas férias de corridas, vamos aproveitar para falar um pouco de um assunto que é incrivelmente pouco comentado e conhecido, as Motos de GP.
O regulamento do MotoGP, grande, extenso e cheio de mumunhas, dá a direção e os limites para que os construtores criem suas máquinas de GP. Colocam limites para que as motos sejam parelhas e façam um espetáculo interessante.
Ninguém quer ver uma corrida onde uma moto suma na frente e antes mesmo da largada, já se saiba o vencedor. Todos querem uma disputa prá valer, com pilotos e motos engalfinhando-se em batalhas imprevisíveis. Sem show não tem interesse, sem interesse não tem patrocinadores, sem patrocinadores não tem dinheiro, sem dinheiro não tem campeonato. Simples assim.
Sendo assim, a organizadora do espetáculo, a Dorna, junto com os fabricantes, chegaram em um acordo para limitar as despesas e evitar que a Honda e Yamaha, gastando muito mais do que as outras, ganhem tudo. Não adianta muito, porque Honda e Yamaha acabam disputando entre elas, mas está funcionando, Ducati, Suzuki, KTM estão a cada dia mais perto e inclusive a Suzuki é a campeã do mundo.
As motos de GP tem que obrigatóriamente serem protótipos, não podem ter peças derivadas de motos de rua.
Vamos começar pelo chassi… o que temos rodando na pista? Em sua maioria são variações do chassi “inventado” pelo espanhol Antonio Cobas, a trave perimetral de alumínio. Até então todos os chassis eram uma bosta, comparados com hoje em dia. Os japoneses, os piores. Os de treliça da Ducati antiga, aceitáveis. Estes chassis são leves (são ocos) e a combinação de reforços e partes sólidas com partes finas, dão uma imensa possibilidade de regulagem.
O primeiro chassi bom japonês foi o Yamaha Deltabox, dali prá trás era tudo meia boca, e ganhavam porque tinham dinheiro, motor e pilotos.
Longe de serem super rígidos, eles tem uma flexibilidade calculada e acertada para as suspensões e pneus. Mudou o pneu? Babou tudo. Mudaram as suspensões? Babou também. Além de suas medidas, é claro, como cáster, trail, tamanho da balança traseira e etc. A função do chassi é de manter tudo junto com eficiência sensibilidade para o piloto. Tem que funcionar recebendo as forças dos movimentos, acumulando, liberando nas horas certas. Ser responsivo, regulável, previsível… é ciência de foguete. Dentro de limites ele é totalmente regulável. O ponto onde a balança traseira encaixa é regulável, existem várias balanças com várias flexibilidades, o entre-eixos é regulável, o angulo dos garfos é regulável e até a sua flexibilidade pode ser um pouco mexida com uns “inserts” de reforço que podem ser aparafusados no bicho. O tanque de combustível geralmente é embaixo do piloto, para uma melhor centralização do peso.
A Ducati, sempre ela, desde o tempo do Filippo Preziozi, e agora com o Luigi Dall’Igna, apronta por caminhos diferentes. Gigi veio um um chassi mais convencional, onde Filippo tinha acabado com o chassi, mas a Ducati tem o que suspeitam ser um amortecedor de massa, naquela parte traseira horrorosa que apelidaram de caixa de salada. É um dispositivo super sofisticado, que a Ducati parece ter adaptado da F1 para as motos de GP. É meio segredo, não se mostra a bruta e só a Ducati usa. A Honda chegou a construir um, mas parece que desistiu. Descobri agora até uma versãozinha para a Panigale ó: https://www.superbikeunlimited.com/supreme-technology-oversuspension-mass-damper-bmw-ducati-yamaha
Para não dizer que são todos iguais, a KTM tem uma tecnologia de chassi mista, que combina tubos treliçados com partes de alumínio. Tem funcionado. Os tubos treliçados que Casey Stoner usou na Ducati para ser campeão do mundo em 2007 funcionam, mas tem limites. São leves, são mais fáceis de ajustar mexendo na posição e espessura deles, mas com as motos chegando a quase 300 CVs, foi ficando difícil. Aí o Filippo resolveu acabando com o quadro! Como as antigas Panigales, o motor era o quadro. Mas o Valentino Rossi chegou, não gostou, rolou um ai meu Deus e a Ducati perdeu-se toda, culminando com aquela moto horrível que o Rossi andou por lá, onde tudo era planejado de um jeito e onde colocaram um quadro de dupla trave desajeitado.
Tudo em uma moto de GP é importante e a falha em conseguir o ajuste de qualquer uma de suas partes, leva a perder alguns centésimos de segundo por volta e pronto, está fora da disputa. O chassi é o responsável maior pelo caráter da moto, ao manter tudo junto, ao receber todas as forças e controlá-las. Uma parte depende da outra, o motor é feito para o chassi, mas o chassi também é feito para o motor e vale também para os pneus e suspensões. Até a eletrônica, porque todos os movimentos da moto tem sensores e são medidos no box.
Para finalizar então, e simplificando, Honda, Ducati, Yamaha, Suzuki e Aprilia usam o mesmo tipo de quadro, a dupla trave de alumínio. Apenas a KTM usa um quadro de tubos+alumínio.
Depois vou falar das suspensões, pneus, motor, eletrônica e aerodinâmica das motos de GP. Aguardem!!!!
Mário Barreto
Fonte: Motozoo® Blog | Motozoo®
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Jornalista MTB 19.208 por formação com pós-graduação em Comunicação Empresarial com ênfase em Marketing, pela Cásper Libero. Todos os textos, fotos e vídeos publicados em TMoto, a exceção dos assinados por terceiros, são de minha autoria, conteúdo com relevância. Sempre que reproduzidos devem ser acompanhados de créditos e fonte.